Cabeça de Porco não é Confusão

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Um rapper, um empresário de hip-hop e um antropólogo formam uma parceria, no mínimo, improvável, mas que resultou no livro "Cabeça de Porco" da Editora Objetiva.

O nome que é designado a cortiços e, na gíria das favelas cariocas, situações confusas ou sem saída, não deixa a dúvida: os autores não passam nenhuma receita mágica de mudança imediata pra a situação das favelas. Porém não deixam de ter esperanças para lidar com as reflexões que envolvem o mundo do crime no país.

MV Bill, autor de músicas como "Soldado do Morro", Celso Athayde, empresário de hip-hop, e Luis Eduardo Soares, antropólogo (Ex-subsecretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro e Ex-Secretário Nacional de Segurança Pública) são as vozes que se perguntam: Qual é a saída para a violência sem rédeas e para a situação desumana e desigual das favelas e a desigualdade na país?

"Cabeça de Porco" é, acima de tudo, o resultado de um trabalho que envolve filmagens e entrevistas feitas em parceria, durante 15 anos nas favelas de nove estados brasileiros cujos autores reuniram histórias de vida e relatos de crianças e jovens que vivem em favelas e se envolvem com drogas e armas. Além da influência que esses fatores têm diante da criação da identidade.

Não é só mais uma obra sobre violência e juventude já escritos, é um livro de 282 páginas que tem o intuito de traçar um mosaico realista sobre a violência, a dimensão humana das pessoas que contribuem diariamente com o crime para sobreviver. Sua intenção não é de ser uma denúncia. Os autores pretendem compartilhar as preocupaçõoes em lidar com um tipo de criminoso - cada dia mais jovem - que ingressa no tráfico. Não trata apenas do massacre, mas do descaso das autoridades, da corrupção que envolve os diversos setores do país e mostra como o incentivo a cultura é um dos remédios para a mudança desse quadro social.

O mérito vai para o espaço destinado aos adolescentes envolvidos, que dão a voz a narrativa, sempre com o desejo de deixar a vida do crime. E relatos sobre famílias completamente desestruturadas. As semelhanças entre as realidades vividas por jovens do Rio de Janeiro e cidades como Joinvile no Sul do país, são os maiores destaques da pesquisa. Nos dois locais, os jovens têm o mesmo sistema de organização e estrutura hierárquica, além de usarem as mesmas gírias. Lugares onde, cabeça de porco só significa uma coisa: uma verdadeira confusão sem saída.

Mas a questão é: qual tem sido o papel da sociedade dentro desse cenário tão conturbado? É o tipo de questionamento que paira no ar.

Em meio a confusão, a essa cabeça de porco, o que resta fazer é se posicionar.

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