Recordações

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Ao olhar a foto eles sentiram todo aquele dia novamente.

Era maio, o mês do matrimônio, em uma pequena capela via-se pouco mais de vinte pessoas pacientemente aguardando o início da cerimônia. A igreja quase vazia, com bancos de madeira enfeitados com fores por toda a parte, pessoas muito bem vestidas como se estivessem a espera de um grande evento. Agumas estavam lá de boa vontade e com votos sinceros de felicidade para o novo casal que iria se formar. Outras estavam impacientes e com olhares de desdém para o que sabiam que iria acontecer logo, pois já tinham perdido as esperanças diante do inevitável.

A tarde era levemente fria e a brisa balançava as luxuosas rosas vermelhas na entrada daquela singela igreja. Mas quem seriam aquelas pessoas? Um casamento com uma dúzia de convidados não parece ser digno a ninguém. Talvez tenha sido a opção dos próprios noivos que optaram pela excentricidade de fazer uma cerimônia quase que em segredo.

Enquanto o noivo aguardava no altar, ancioso pelo acontecimento que julgava ser o maior de sua vida, o outro noivo com a mesma sensação, acabara de chegar a porta da igreja. É isso mesmo, o casal americano Josh e Taylor, decidiram enfrentar a sociedade preconceituosa e realizar o sonho de ambos: casarem com o amor de suas vidas de modo tradicional com direito à cerimônia na igreja, padrinhos e festa.

Os familiares de ambos, sabiam do relacionamento, porém não aprovaram e ficaram descontentes com a notícia do casamento. Taylor chegara a comunicar seus pais, mas o pai respondeu que morreria de desgosto e preferia ver seu primogênito dentro de um caixão a casar-se com um homem. E os pais de Josh copareceram à cerimônia, mesmo que a contragosto. Os poucos amigos foram prestigiá-los com alegria e animação, talvez muitos dos presentes, homens e mulheres homossexuais tenham passado por árduos obstáculos. Eles que ao tocar da marcha nupcial levantaram emocionados para assistirem ao grande dia daquele casal que se amava de verdade.

Josh, parado no altar e Taylor ao entrar na igreja sozinho tinham seus ternos iguais com uma rosa vermelha na lapela de cada um, trocaram um beijo simples quando se encontraram e se dirigiram ao centro do altar. Seus pensamentos estavam ao mesmo tempo longe e presentes ali, lembrando de cada dificuldade e preconceito que haviam passado para vivenciarem aquele momento. Frases como "Isso nunca dará certo" ou "Vocês realmente sabem o que querem?!", passaram por suas lembranças. Entretanto os dois sempre souberam que o que idealizaram era o certo a ponto de arriscarem tudo. Arriscarem suas vidas e serem motivo de piada para a sociedade. Os dois passaram por tantos preconceitos, por tantas portas fechadas ao longo de suas vidas e naquele momento tiveram coragem, muito mais coragem do que todos os presentes naquele dia, para compartilharem suas vidas.

Rejeição da família, dos amigos, preconceito, homofobia, doenças, amigos que se foram, crueldade e falta de sensibilidade. A difícil vida que as pessoas diferentes da maioria enfrentam diariamente contra uma massa intolerante. Mas ali, naquele instante registrado por uma simples foto dá até pra sentir a enorme felicidade, companheirismo e amor que os dois sentem um pelo outro.

*[Produção de Texto fictício, tema livre. Colaboração Letícia Iambasso e Paloma Moreira. FOTO Google]

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