Vira, Vira, Virou

quinta-feira, 7 de maio de 2009

5ª edição da Virada Cultural tem música, cinema, dança, teatro e circo

Metrô lotado. Começo de noite fria, ruas cheias de gente e famílias inteiras transitando depois das 18h no centro da cidade. Jovens perambulando e descobrindo ruas e praças a procura de algo. Esse foi o clima da Virada Cultural 2009 em sua 5ª edição que reuniu, aproximadamente, 4 milhões de pessoas divididas entre 800 atrações apresentadas no ultimo final de semana (dias 2 e 3) no centro de São Paulo.

Apesar da crise que assola o país, a Virada Cultural deste ano não diminuiu. A maratona de 24 horas manteve a mesma quantidade de atrações do ano
passado e o mesmo espírito de celebração múltipla que promove a integração entre classes sociais, gerações e gêneros. A maioria das atrações foram gratuitas, mas em alguns casos foi preciso retirar ingressos com antecedência, e outros foram a preços populares.

A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) interditou algumas das principais rua
s da região central para o evento que começou às 18h do sábado e durou 24 horas. A avenida São João, Rio Branco e Ipiranga foram os principais pontos de interdição. Além destas, mais oito vias foram bloqueadas: ruas Boa Vista, Libero Badaré, Coronel Xavier de Toledo, Cásper Líbero, viaduto do Chá e Praça da Luz, segundo o site da própria CET.

Com 15 minutos de atraso, teve início às 18h25 no palco da avenida São João, um dos principais, e
mais lotados da virada, o show do tecladista da banda Deep Purple, Jon Lord e a Orquestra Sinfônica Municipal. No mesmo palco apresentaram-se também Geraldo Azevedo, Marcelo Camelo, Zeca Baleiro, Novos Baianos entre outros.

Além dos 30 pontos de atrações no centro e uma vasta programação musical, aconteceram eventos nas unidades dos CÉUs, museus
, centros culturais. E em parceria com a Prefeitura Municipal de São Paulo e o Governo do Estado, os SESCs ofereceram programações durante 24 horas de cultura sem interrupções. Entre os espetáculos, a apresentação com sirenes tomou conta da Praça do Patriarca, o Teatro Municipal teve músicos como Tom Zé que recriaram velhos sucessos e um homem executou uma inusitada performance com uma escavadeira no Anhamgabaú.

Raul Seixas reviveu no palco da Estação da Luz dedicado aos 20 anos de sucesso
s após sua morte, com a participação de 19 bandas. “Conheço o cara desde os 15 anos, ele era maluco beleza” afirmou Alessandra, 32, com as amigas cantando as músicas do compositor. Os eventos ligados ao ano da França no Brasil foram reforçados com intervenções cênicas e apresentações de rua. Um dos destaques foi a Cie. Carabosse que apresentou no parque da Luz uma enorme “Instalação de Fogo”.


(
Arco de Fogo na Estação da Luz e as amigas Alessandra e Regina no palco dedicado a Raul Seixas )
Além das apresentações confirmadas para o evento, muitos artistas independentes compareceram às ruas para mostrarem sua arte. É o caso do estudante Leandro Luiz, 25, que mesmo com a carta de recusa da organização para participar da Virada, teve a idéia de mostrar fotos e esculturas na rua Barão de Itapetininga. Para ele sua arte é “uma arte itinerante, é a arte pela arte. A arte sem sentido”. As esculturas espalhadas pelo chão e fotos penduradas em uma espécie de varal, contaram ainda com a participação de mais de 40 estudantes de universidades particulares e públicas de Belo Horizonte. Fato inusitado foram milhares de tampinhas de garrafas pet espalhadas pela rua que foram chutadas pelo público que passava, e delas ecoava um som parecido com chuva. “A intenção não era essa, mas tá valendo” afirma Leandro. Marcela Muniz de Souza, 63, ao ser questionada do porquê em estar chutando as tampinhas sorri e diz: “Não era pra chutar não? É tão divertido”.

(Leandro Luis – Organizador do Projeto Itinerante)
Os palcos de música eletrônica, os mais populares do evento, foram pequenos para a edição 2009 da Virada que contou com discotecagens dos consagrados Djs Mau Mau, Patife e Renato Lopes. Foram três pontos montados na cidade: rua 15 de Novembro (tecno e house), largo São Francisco (trance) e Anchieta (apresentação de Djs das casas noturnas de São Paulo). Uma multidão de jovens se aglomeraram na estreitíssima rua 15 de Novembro o que causou muito tumulto. Muitas pessoas passaram mal e haviam poucos policiais por perto. “Eu só vim pra essa pista”, afirma Marcos Almeida da Silva, 19, falando sem parar de dançar. Seu amigo Sergio Rezende Correa no mesmo pique adverte: “Estou curtindo, mas só vai começar a bombar e ficar bom mesmo, mais tarde”, referindo-se a pista lotada. Pela falta de policiamento no local não foi difícil encontrar usuários de drogas perto das caixas de som e o cheiro de maconha era facilmente reconhecido.

“Os policiais estão em bando, não estão fazendo ronda nem nada. Eles estão simplesmente parad
os olhando as pessoas roubarem umas as outras”, disse Carla Medeiros Pinto, 42, empresária. Questionados, os PMs da região não estimaram o número de pessoas presentes nos palcos, e também não quiseram falar sobre a quantidade de ocorrências durante a madrugada.

Mesmo com infra estrutura planejada, os 900 banheiros químicos colocados em toda a região central não deram conta do recado. Todos ficaram inutilizáveis por volta das 2h do domingo e foram alvo da maior parte das reclamações do público, principalmente o feminino. Às 4h30 barracas de comidas tiveram seus estoques zerados. Para os ambulantes o fluxo foi gigantesc
o, inclusive para vendedores de bebidas alcoólicas, como é o caso de “Tonhão”, 57. “O que mais vende é vinho”, alega ao segurar uma garrafa de vinho químico (álcool com sabor artificial).

(Barracas de comida próximas a Praça da República)
O metrô também funcionou durante 24 horas, porém a estação República foi fechada devido às obras de construção da linha 4 – amarela, o famoso “Tatuzão”. Os usuários tiveram que descer do trem e pegar um ticket na saída da estação para seguir de ônibus gratuito até a estação seguinte – Santa Cecília. Às 18h45 de sábado, a circulação do público era tão grande na estação Anhamgabaú que os funcionários do metrô fecharam a estação por 45 minutos, para garantir a segurança das pessoas. A dona de casa Izabel Pereira Lima, 56, desistiu de levar os filhos diante da superlotação. Em afirmação para a Folha de S. Paulo, o secretário municipal da Cultura Carlos Augusto Calil disse que o que ocorreu foi que a redução de palcos – 26 em 2008 para 22 em 2009 - interferiu na distribuição das pessoas.

A partir das 5h da manhã do domingo o metrô utilizava um rodízio de usuários: conforme 100 pessoas, aproximadamente entravam na estação as portas eram fechadas durante 15 minutos. Motivo para muita gente reclamar e começar empurra- empurra. No próximo ano a idéia é afastar os palcos para evitar que se repita o fenômeno segundo o coordenador da Virada, José Mauro também para a Folha de S. Paulo.


O megaevento teve encerramento com faixas do ultimo álbum da cantora Maria Rita no palco da av. São João. E às 23h30 do domingo, ainda havia uma multidão nas ruas. Entretanto, no lugar de mendigos e prostitutas que sumiram durante a festa da cidade, o cenário que restou por todo o centro foram pessoas embriagadas caídas a cada quarteirão, e ruas tomadas por lixo - garrafas plásticas, papel, caixas e restos de alimentos. Os shows passaram, mas o lixo ficou.

0 comentários:

(+) Últimos intelectuais