Porque o Bom Jornalismo tem um Preço

segunda-feira, 13 de abril de 2009

"A notícia pode querer ser de graça, mas os filhos dos jornalistas querem ser alimentados"
(Steve Brill - empresário criador da CourtTV e do "Brill's Content")

Será que o jornalismo tem futuro? Aquele jornalismo que se conhece hoje, será que ele vai se manter vivo na era da Internet? Tudo indica que o Jornal impresso, aquele monte de papel que se vende hoje nas bancas aos montes, com vários nomes, vai chegar ao fim. Não só o jornal, mas grande parte das mídias impressas estão ameaçadas pela era da internet que disponibiliza diariamente mais conteúdo na rede que qualquer outro meio.

A Internet permite a obtenção mais rápida da notícia, temporalidade, interação e conforto ao leitor e com isso deu-se início a todo um falatório em torno da crise no jornalismo impresso. O velho jornal perde seu espaço diante das novas mídias, e levanta questões como o seu futuro, o futuro dos profissionais da área e o surgimento de novos tipos de mídias que podem substituí-lo. Para Philip Meyer, em seu livro "The Vanishing Newspaper" já existe até previsão para o fim do jornal - o ano de 2043 marcará o fim da notícia impressa -, e a era digital vai dominar o jornalismo no mundo, como já acontece há algum tempo.

O melhor jornal do mundo, o "The New York Times" vive a seguinte situação: seu site recebe 20 milhões de visitantes por dia - no mínimo, seis vezes mais leitores que a edição impressa jamais teve. Como o conteúdo está aberto na web a circulação e o faturamento do jornal de papel despencam porque o site não dá dinheiro. Uma das alternativas para reverter a situação, já que os anúncios não têm tanta força, é cobrar pelo conteúdo online para obter fonte de renda. Mas quem está disposto a pagar?

Um dos principais executivos da história da revista "Time", Walter Isaacson assume culpa por essa demanda sendo um dos primeiros defensores de revistas e jornais migrarem para a internet, liberando todo o conteúdo para o meio digital com o intuito de se manter através do lucro com os anúncios. Porém o modelo com mais garantia de sucesso seria o processo gradual para a cobrança desse conteúdo online que aos poucos faria parte da realidade dos leitores.

Ingrediente recente e fator que contribui em peso para o fechamento de veículos impressos é a crise financeira dos últimos tempos. No dia 28 de fevereiro foi anunciado o fim do "Rocky Mountain News", de Denver (Colorado EUA) após executivos anunciarem o fechamento do jornal após 150 anos na ativa devido a problemas financeiros. Pesquisas realizadas por "Pew Research Center for the People & the Press", no período de dezembro de 2008, revelam que aproximadamente 6 entre 10 pessoas com menos de 30 anos tem acesso a internet como fonte principal de notícias. Não sendo motivo de sustos, pois na internet é possível ter acesso a notícias de graça, ao contrário do impresso.

O colunista da Folha, Álvaro Pereira Júnior também acredita que calouros e veteranos de jornalismo têm muito o que se preocupar. Na coluna publicada no dia 16 de fevereiro para o caderno Folha Teen ele afirma: "(...) Daqui a quatro anos a mídia em que esses calouros querem trabalhar pode nem existir mais. Terão de criar seu próprio mundo".

O outro lado

Em contra partida, há exemplos de jornais que crescem no país, como o "Agora" que no dia 22 de março completou 10 anos e lidera no ranking de vendas nas bancas de São Paulo desde 2004. O jornal que foi assunto para uma matéria na Folha de S. Paulo tem Nilson Camargo editor do "Agora" que destacou o jornal como "(...) a renovação do jornalismo popular no Estado". Segundo o Instituto Verificador de Circulação o "Agora" tinha em janeiro deste ano uma circulação diária de 93.661 exemplares contra 80.249 no mesmo período de 2004 quando começou a liderar contra "Diário de S. Paulo" e "Jornal da Tarde". Em afirmação para a Folha, Nilson Camargo diz que remontou o jornal e tirou de suas páginas o modelo sensacionalista e o substitui pelo "foco na defesa dos interesses cotidianos do leitor como cidadão, contribuinte, consumidor e trabalhador".

Há quem defenda o jornalismo impresso como um modelo diferente para que ele sobreviva. O jornalista Ricardo Noblat, no livro “A Arte de Fazer um Jornal Diário” acredita no jornal “nosso de cada dia”, que possa ganhar cada vez mais credibilidade fazendo algo diferente do que é feito hoje, com as empresas jornalísticas deixando de se preocupar somente em vender notícia, e passando a cumprir o papel do jornalismo imparcial e feito com responsabilidade. Os jornais precisam ter um foco diferente, para atrair jovens leitores na faixa etária de 15 a 30 anos.

Apesar de significar cerca de apenas 40% da renda total de um jornal, a venda avulsa e as assinaturas são os principais responsáveis pela permanência dos jornais no mercado, mas o projeto "Círculo de Leitores", desenvolvido pela Folha, em que durante oito meses foram ouvidos assinantes em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, deixa claro que os leitores querem uma publicação analítica, sintética, prática e interpretativa. Em outras palavras, querem ter ajuda para selecionar o que importa para as suas vidas.

Hoje o foco da informação mudou, quem dita as regras são os próprios leitores. Eles escolhem o que ler e quando ler. O estudante de Publicidade e Propaganda, Kaic de Oliveira Pereira, 21, alega que, "o jornal impresso não acaba, porque transmite mais credibilidade do que a notícia online". "As pessoas gostam de papel. Gostam de pegar, de ver e de tocar" diz. O estudante acredita que "daqui uns 100 anos ainda existam jornais circulando por ai".


Mas afinal, qual é a preocupação com os leitores do futuro? Como reduzir tanta informação, muitas delas complexas, em pouquissimos minutos de leitura diária? Como chamar a atenção de um público cada vez mais hiperativo? É um grande desafio que envolve toda a rede de produção e veiculação de conhecimento. Afinal, segundo o jornalista Gilberto Dimenstein "os jovens leitores são treinados desde a escola, não para selecionar, mas para acumular informações de diferentes assuntos sem muita conexão com a realidade e depois, rapidamente, esquecê-las".

Com a chegada da TV não chegaram ao fim, nem o rádio, nem o cinema. Esses veículos são prova "viva" de que são necessárias novas mudanças no modo de fazer jornalismo. É fácil entender as razões, difícil é enfrentá-las. É preciso traçar novo rumo e criar identidade para corresponder a essa nova sociedade onde não há tempo para ficar parado e que a pressa faz parte do dia-a-dia de cada um. Devem aparecer novas medidas para um Novo Jornal.

Os jornalistas precisam reinventar, não só o velho jornal, mas também a si mesmos. Com os milhares de dados desconexos e em pedaços que estão na internet, a habilidade para seleção será cada vez mais requisitada, colocando o jornalista novamente em cena para abater também a demanda de produção coletiva de conhecimento, onde qualquer um sente autoridade para falar de qualquer assunto. Assim, só será possível o fim do jornal impresso quando as novas mídias mesclarem a agilidade da notícia com o conteúdo da informação.

Além disso, o jornalismo digital pode ser a maior fonte de informação - é a tendência prevista para o mundo hoje -, mas é preciso dar novo jeito para se fazer notícia, pois o jornalismo impresso ainda contará com a simpatia daqueles que gostam de sujar as mãos de tinta lendo páginas de um jornal velho.

[+] Matéria da Folha de S. Paulo

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Observatório da Imprensa sobre a capa da "Time"

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